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A TEOLOGIA DO CACHORRO E DO GATO

É o título de um livro que descobri há pouco tempo.
“A Teologia do Cachorro e do Gato” não parece ser obra séria, pelo título. Mas é. É seríssima. Os
autores, Sjogren e Robinson, começam com uma anedota sobre cachorros e gatos. O cachorro diz:
“Você me acaricia, me alimenta, me abriga, me ama. Você deve ser Deus”. O gato diz: “Você me
acaricia, você me alimenta, me abriga, me ama, eu devo ser deus”. A partir daqui os dois mostram as
diferenças entre cristãos tipo cachorro e cristãos tipo gato.
O cachorro segue por amor, é dedicado, engaja-se, envolve a vida. O gato quer as coisas boas, mas
sem compromisso. Quer promessas, cuidados, atenção de Deus, da Igreja, do pastor. Não se
preocupa em ser útil, um instrumento nas mãos de Deus. Seu universo é ele mesmo.
Em outra observação sobre cães e gatos, os autores dizem que “os cães têm donos, os gatos têm
funcionários”. Sei disso. Lá em casa, já tivemos um gato, com funcionários à sua disposição.
Uma das boas observações do livro é no tocante ao Senhorio de Deus na vida do crente. O cachorro
tem Deus como seu Senhor em qualquer circunstância. O gato tem Deus como seu Senhor enquanto
receber bênçãos. Quando as coisas apertam quantos “crentes gatos” somem da Igreja! E, sem hesitar,
se houver mais vantagem do outro lado, o “crente gato” terá novo senhor. Se o mundo oferecer mais
ou apresentar uma proposta de mais felicidade (é tudo que os gatos buscam, ser abençoados e ser
felizes) o Evangelho será deixado e a Igreja abandonada.
O crente gato se pauta pela lei de Gérson: levar vantagem, sempre. Lembrei-me das palavras de Jesus
a uma multidão de crentes gatos: “A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os
sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos” (Jo 6.26). A multidão não se
importava com as obras de Jesus. Queria barriga cheia.
Pena que ainda haja gente assim, que estabelece seu relacionamento com Deus na base das coisas
que pode ganhar, não por amor a Deus e à verdade! Platão, filósofo grego, disse, certa vez: “Odiamos
a injustiça não por amor à justiça, mas com medo de que a injustiça caia sobre nós”. Ele quis dizer que
muitos dos nossos sentimentos e ações não são motivados por amor à verdade, mas por interesse.
Uma vida cristã equilibrada e sadia não se pauta por interesse. Deus deve ser buscado não pelo que
nos pode dar (ele já nos deu, e muito!), mas por aquilo que Ele é. Jesus Cristo deve ser seguido não
como se fosse um papai noel espiritual, com um saco cheio de bênçãos para nos dar. Mas porque é
Jesus Cristo, o único, o incomparável, com uma proposta de vida que ninguém iguala, e dentro da
qual nos realizamos por ser a vontade de Deus para nós.
Gato é charmoso. Chamar alguém de “gato” é um elogio. E de cachorro, uma ofensa. Dizer que
alguém fez uma “cachorrada” conosco não é elogiar o alguém. Mas em matéria de teologia, como
dizem os autores do livro citado, a melhor é a do cachorro. É sadia. A do gato é desfocada e
mesquinha. Neste sentido, seja um cachorro. Os gatos atrapalham a Igreja.

Rev. Izaias Moreira da Cunha