Normalmente, consideramos a perspectiva missiológica do evangelho de Mateus no mandato de Cristo sobre a grande comissão: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos.” (Mt 28.18-20)
Mas se observarmos mais de perto, este texto prova de missões, expressa um resumo geral do evangelho, quanto ao propósito eterno de Deus e a responsabilidade de Deus para Seu povo, a Igreja. A missiologia está presente em Mateus: 1. Em seu tempo escatológico; 2. Em seu tempo histórico; 3. No uso que Mateus faz das palavras – tribo, povos e nações. Assim, a Igreja pode nos perguntar, como podemos saber o ensino de Mateus sobre a nossa responsabilidade em todo o propósito eterno de Deus.
- Olhando o tempo escatológico do ensino de Mateus
Neste evangelho, Mateus, situa sua narrativa como cumprimento de Is 7.14 – “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel”. Por isso, o evangelho começa como termina: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20), e “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel” (Mt 1.23). O tempo escatológico do livro é um evento exclusivo da graça de Deus, pois somente a partir da presença de Cristo, Deus conosco, existe a responsabilidade da Igreja. Cristo é a revelação de todo o propósito de Deus, na história humana, e nossa segurança é a Sua garantia, estará presente com toda a autoridade que Deus lhe deu.
- Olhando para o tempo histórico dos leitores de Mateus
Mateus escreve o evangelho para a Igreja de origem Judaica, saindo de Jerusalém pela perseguição provocada pelos Judeus contra os cristãos e escreve para discipular esta Igreja que se encontrará com a Igreja de origem gentílica, de fala grega ou mesmo siríaca em Antioquia da Síria. Neste evangelho, Mateus revelará o que significa ir a “todas as nações” (πάντα τὰ ἔθνη). Mateus observando a realidade histórica da Igreja escreve para mostrar, que Jesus é Deus Conosco, o Rei dos Judeus, o Rei das nações, de todas as nações, cada uma e todas elas. Isso ele faz, relacionado o envangelho ao tempo da profecia – “E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel” (Mt 2.6) e “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto, o Senhor os entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz; então, o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor, seu Deus; e eles habitarão seguros, porque, agora, será ele engrandecido até aos confins da terra.” (Mq 5.2–4). Aquele que está presente, Deus conosco, será engrandecido até aos confins da terra, e virá de Belém.
- Olhando para o uso que Mateus faz das palavras – tribo, povos e nações.
Mateus usará a palavra – Φυλή (phyle) – tribo, para se referir aos povos em geral – “todos os povos da terra se lamentarão” (Mt 24.30). Usará a palavra – Λαός (laos) – catorze vezes, para se referir ao povo Judeu – “ele salvará o seu povo dos pecados dele” (Mt 1.21); “E o povo todo respondeu: caia sobre nós o seu sangue e sobre os nossos filhos” (Mt 27.25). E por fim, usará a palavra – ἔθνος (Etnos) que aparece 15 vezes, para se referir aos gentios: “Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios! O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4.15–16). Mateus, fazendo uso destas três palavras, em seu evangelho, ensina que os eleitos de Deus, chamados em Cristo, Judeus ou Gentios, devem ir a todos os povos da terra.
Conclusão: Nossa responsabilidade hoje
Observe, que a Presença de Cristo é a nossa maior necessidade, mas na autoridade daquele que está presente, a Igreja, de todos os povos deve ir, em seu tempo histórico a todos os povos. Nossa responsabilidade acontecerá no meio da história dos povos – “Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino” (Mt 24.7), ou enquanto Deus cumpre a disciplina ensinada por Cristo a Israel – “Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” (Mt 21.43). Em Mateus, o Rei dos Judeus, é o Rei das nações – “todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos das ovelhas” (Mt 25.32). No tempo escatológico do propósito eterno de Deus, anunciado pelos profetas, sob a autoridade de Cristo e acompanhada por Cristo, a Igreja tem a obrigação de ir e fazer discípulos, adoradores de cristo de todos os povos, tribos, línguas e nações, em todo lugar onde não existir a adoração, batizando e ensinando a serem conforme Cristo. Na companhia de Emanuel, Deus conosco, sob toda a autoridade Dele, em obediência a Ele, como servos fiéis a todo o propósito eterno de Deus.
Rev. Rubens Alexandre de Almeida
rubensaalmeida@gmail.com