A vida cristã é, por sua própria natureza, uma jornada de crescimento, aprendizado e transformação. No entanto, uma questão que frequentemente surge é: devemos caminhar essa jornada sozinhos? Será que a autosuficiência é realmente benéfica para nossa fé e crescimento espiritual? Na era da individualidade, muitos cristãos têm sido tentados a ver sua caminhada com Deus como algo profundamente pessoal e isolado. No entanto, ao examinar as Escrituras e a vida dos primeiros seguidores de Cristo, vemos uma imagem muito diferente: uma comunidade unida pela fé, pelo amor e pelo discipulado.
A mentalidade de autosuficiência na vida cristã é perigosa por várias razões. Primeiramente, ela nos leva a acreditar que podemos crescer espiritualmente sem a ajuda de outros. Esse pensamento é contrário ao ensino bíblico de que somos um corpo em Cristo (1 Coríntios 12:27), no qual cada membro depende do outro para funcionar adequadamente. Quando tentamos seguir a Cristo isoladamente, nos privamos da sabedoria, correção e encorajamento que vêm da comunhão com outros crentes.
Além disso, a autosuficiência nos deixa vulneráveis ao engano e à tentação. Sem a supervisão e a orientação de mentores espirituais, podemos facilmente desviar-nos do caminho da verdade. O autor de Hebreus nos adverte a “não nos desviarmos tão facilmente do que ouvimos” (Hebreus 2:1), enfatizando a importância de estarmos continuamente alinhados com o ensino correto.
O próprio Jesus é o exemplo perfeito de como o discipulado deve ser parte integral da vida cristã. Ele passou três anos ensinando, corrigindo e encorajando seus discípulos. Ele não os deixou seguir sozinhos, mas caminhou com eles, compartilhando a vida e preparando-os para o ministério. Assim como os discípulos tinham a Jesus, a igreja primitiva tinha os apóstolos, e Timóteo tinha Paulo.
Paulo, em sua carta a Timóteo, exemplifica a importância da mentoria e do discipulado: “O que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Timóteo 2:2). Aqui, vemos uma cadeia de discipulado que não só preserva a verdade, mas também garante que ela seja transmitida às próximas gerações.
A mentoria e o discipulado são cruciais para o crescimento na vida cristã. Eles nos ajudam a desenvolver um entendimento mais profundo das Escrituras, nos fornecem modelos de como aplicar a fé no dia a dia, e nos oferecem uma rede de suporte em tempos de dificuldade. Discipulado não é apenas sobre adquirir conhecimento, mas também sobre ser transformado à imagem de Cristo, à medida que caminhamos ao lado de outros que estão em busca da mesma transformação.
Um exemplo prático da importância do discipulado pode ser encontrado na vida de John Newton, autor do famoso hino “Amazing Grace”. Newton foi um comerciante de escravos que experimentou uma profunda conversão a Cristo. Após sua conversão, ele foi discipulado por outros crentes mais maduros, que o ajudaram a crescer na fé e a entender as implicações de sua nova vida em Cristo. Foi através desse processo de discipulado que Newton não só abandonou o tráfico de escravos, mas também se tornou um dos mais influentes abolicionistas de sua época.
Portanto, o discipulado é fundamental para a vida cristã. Ele nos conecta a outros crentes, nos protege contra o erro e nos ajuda a crescer em nossa caminhada com Cristo. Sem ele, corremos o risco de nos perdermos no isolamento e na autosuficiência, negligenciando o chamado de sermos um corpo em Cristo. Assim como os discípulos tinham a Jesus e Timóteo tinha Paulo, cada um de nós deve buscar e ser parte de uma relação de discipulado, onde o amor, a verdade e o crescimento espiritual possam florescer. Que possamos lembrar que a vida cristã não é para ser vivida sozinha, mas em comunidade, como uma família de fé.
Pr. David Marestegão Borges